Richard Vogt: do Blohm & Voss BV P.215 aos SpaceShipOne/Two?
Por Luiz Eduardo Silva Parreira
Depois que perdeu a Primeira Guerra Mundial, a Alemanha foi proibida de possuir e produzir diversos armamentos. Mas como é uma terra de geniais juristas e engenheiros, conseguiu encontrar "brechas" nos tratados e avançar em áreas que poucos ou nenhum país dava atenção. Uma delas foi a engenharia aeronáutica voltada a foguetes e propulsão à jato.
A 'Verein für Raumschiffahrt' (Spaceflight Society), em 1930. Foto: http://www.droopsnoot.co.uk/rak2.htm |
Anos mais tarde, no transcorrer da Segunda Guerra Mundial, muitos dos experimentos e teorias aperfeiçoadas durante as décadas de 20 e 30 ganharam corpo, como o foguete hipersônico V-2 e o caça a jato Me-262.
Messerscmitt Me-262. Foto: Luftwaffe 39-45 |
Contudo, quando esta guerra terminou, muita coisa ainda estava sendo estudada e não teve tempo de entrar em produção. Os aliados sabiam disso e buscaram os cientistas alemães para que eles fossem para os EUA (Operation Paperclip) ou URSS, a fim de que nesses países, continuassem seus experimentos.
Von Braun, durante a Segunda Guerra Mundial, na Alemanha, na década de 40, e, na NASA, quando participava do Programa Apollo, na década de 60. |
Assim foi com Wernher Von Braun, que trabalhou na pesquisa das V-2 e foi o pai do Saturno V, o foguete que levou o homem à Lua. Também Kurt Tank, pai do caça FW-190 e projetista do Ta-183, que deu origem ao Pulqui II argentino e - segundo muitos - inspirou os projetos do MiG-15 soviético, F-86 Sabre norte-americano e do Tunan, sueco.
Kurt Tank e seu legado: Ta183, F-86 Sabre, MiG-15, Tunan e Pulqui II. |
Mais de 60 anos depois, acreditava-se que essa influência germânica teria terminado. Noutras palavras, que a tecnologia do século XXI já teria avançado a tal ponto que as ideias originais da engenharia teutônia só serviriam para exemplos históricos. Mas não é bem assim ...
Em 21 de junho de 2004, a Scaled Composites - empresa privada que pretende fazer negócio com turismo espacial - anunciou o sucesso do voo do seu avião-protótipo, que executou com perfeição o primeiro voo espacial privado da história: o SpaceShipOne.
Já em 11 de outubro de 2010, a agora The SpaceShip Company, formada pelas empresas Scaled Composites e Grupo Virgin, fez voar o SpaceShipTwo, com a qual pretende levar turistas espaciais para voos sub-orbitais.
Essas duas aeronaves do novo milênio se parecem muito com o projeto do engenheiro alemão Richard Vogt, que trabalhava para a empresa Blohm & Voss!
Entre 1944 e 1945, Vogt esteve envolvido num programa que visava criar um caça de grande altitude, cujo desenho também serviu para uma versão de caça-noturno: o BV P.215.
Na verdade, o BV P.215 era o fim de uma longa série de projetos sob os cuidados de Richard Vogt, mas que não tinham sido construídos. Seria um caça com propulsão à jato e levaria novidades para a época, como um radar embarcado e míssies. Mas o que chama atenção nele e os SpaceShips são sua formas. As aeronaves são praticamente iguais.
Quem está acostumado a ver projetos, mockups e desenhos de veículos-conceito, sabe que - invariavelmente - uma coisa aqui ou ali será maior, menor, mais redonda, mais fina; diferente, entre o que está desenhado e o que será construído ou entre o protótipo e a versão de produção. Dados que corroboram a afirmação de que os engenheiros da The SpaceShip Company deram uma olhadinha nos estudos de Richard Vogt ;-)
Richard Vogt. http://www.scientistsandfriends.com/aerodynamics.html |
Ah, sim, Vogt foi para os EUA, depois da guerra, e entrou na Boeing, onde fez vários estudos. Participou do projeto do Boeing 747 e de suas pesquisas resultou na adoção de winglets nas pontas das asas dos aviões.
Também outro de seus conceitos foi testado: a asa oblíqua. A ideia foi mostrada no BV P.202 (anos 40) e anos mais tarde, concretizada no AD-1, da NASA.
O cara era fera mesmo!
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