Forte de Coimbra: Camalotão, o clube recreativo do meio do Pantanal!
Por Luiz Eduardo Silva Parreira
Forte de Coimbra é um destacamento militar do Exército Brasileiro, distante cerca de 100 quilômetros de Corumbá, às margens do Rio Paraguai, à jusante dele. Existe desde 1775 (!) e tem muita história para contar, as quais aos poucos iremos retomar, passando, inicialmente e preferencialmente, por fatos pouco lembrados, mas não menos importantes. Desde 1992 a unidade militar que administra o Forte de Coimbra é da arma de Infantaria, hoje a 3ª Companhia de Fronteira/Forte Coimbra (3ªCiaFron/FC). Antes era um quartel de Artilharia, sede da 1ª Bateria do 6º Grupo de Artilharia de Costa do Exército Brasileiro (1ª/6º GACos).
Em meados dos anos 2000, o Exército Brasileiro pretendeu retirar os moradores civis do aldeamento adjacente à fortificação (em razão da MP335/2006). Um assunto que mexeu com a sociedade sul-mato-grossense por conta da remoção, de uma hora para outra, de dezenas de pessoas que, morando junto ao forte por gerações, se viam obrigadas a deixar suas casas para serem enviadas para locais que ninguém sabia explicar aonde seria! Mas ao final reinou o bom senso e resolveu-se pela permanência delas na região.
População da vila de Forte de Coimbra, em 1979, quando das Missões Redentoristas da Igreja Católica Apostólica Romana. Arquivo de José Lourenço Parreira. |
Interessante notar que foi uma medida governamental completamente diferente da política que existiu no Brasil no século XX. Lá, pretendia-se a ocupação e fixação de populações nas fronteiras afastadas do país e Forte de Coimbra era um desses pontos. Desde a década de 30, o povoado do Forte de Coimbra recebeu melhoramentos constantes para fixação de pessoal civil e militar na região, cujas histórias serão contadas em outros posts.
Vila adjacente ao Forte de Coimbra. Fotografia tirada entre as décadas de 30 e 40 do século XX. Arquivo pessoal Luiz Eduardo Silva Parreira. |
De se lembrar que era uma época pré-internet, sem TV a cabo via satélite nem telefonia celular. Significa dizer que viver em Forte de Coimbra no século XX era estar distante e isolado de tudo no Brasil e no mundo.
No início da década de 70 comandava do Forte de Coimbra o Major de Artilharia PQD (n.º. 4307) Walkyr Serrano de Andrade. Sem ordem de Comando algum, ordena a construção de três prédios na localidade com a finalidade de melhorar a vida da população civil e militar que ali vivia: um armazém, que serviria de supermercado; um clube, o Camalotão; um colégio de 2º grau, o Ricardo Franco.
Os três prédios foram construídos bem próximos da margem do rio Paraguai. Segundo os dados que se tinha da região, as cheias pantaneiras não costumavam atingir aquela área e por serem próximas da vila, atingiriam o desiderato de servirem à comunidade.
Vista leteral do armazém de Forte de Coimbra. Arquivo pessoal de José Lourenço Parreira. |
O Camalotão passou a ser o centro das festividades da vila do Forte de Coimbra. Tudo se comemorava lá: dia das mães, carnaval, bailes, etc. Até cinema era proporcionado! Segundo depoimento do Capitão José Lourenço Parreira, obtinham-se rolos de filmes vindos de Assis (SP) em Campo Grande, por meio da Irmandade Nossa Senhora do Carmo (INSC), que eram projetados pelo Sargento Coleta, em certos finais de semana, para os moradores.
O nome Camalotão não era oficial, mas oficioso, dado pela soldadesca. Era em alusão à planta Eichhornia crassipes que desce aos montes pelo rio Paraguai.
Detalhe da entrada do Camalotão. Quando das enchentes a água chegava na altura das suas janelas. Arquivo pessoal de José Lourenço Parreira. |
Em 1974 houve a primeira grande cheia do Pantanal sul-mato-grossense e as águas tomaram conta da área onde ficava o armazém, o Camalotão e o colégio Ricardo Franco (que também receberá um post só seu).
O armazém, o Camalotão e o Colégio Ricardo Franco, todos inundados pelas águas do rio Paraguai. Arquivo pessoa José Lourenço Parreira. |
Outra foto do armazém e à esquerda, da lancha Cmte. Balduíno antes do acidente de 30/04/1983, quando ainda tinha dois andares (haverá um post só sobre as lanchas do Forte de Coimbra). A partir do acidente a lancha passou a possuir apenas um pavimento. Arquivo de José Lourenço Parreira.
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Fotografia que mostra o armazém demolido. Arquivo pessoal de José Lourenço Parreira. |
Outra vista do Camalotão sob as águas, mas já sem a presença do armazém. Notar a altura que a água do rio Paraguai atinge o Camalotão. Arquivo pessoal de José Lourenço Parreira. |
Anos depois, uma chata (embarcação) que carrega minério abalroou o Camalotão, destruindo-o parcialmente, o que fez com que se decidisse por sua demolição total. Durou cerca de 10 anos, de 1973 a cerca de 1983.
Uma chata como esta, segundo a tradição oral coimbrense, acertou o Camalotão, culminando na sua demolição. Foto: Panorâmico de almiro44. |
Hoje, quase 30 anos depois de seu erguimento, não restam quaisquer sinais da existência desses prédios em Forte de Coimbra, apenas fotografias e lembranças de uma época em que se vislumbrou levar um pouco mais de conforto e cultura àqueles que lá viviam.
Ângulo em que é possível ver onde ficavam o Camalotão e os demais prédios. Foto: Panorâmico de almiro44. |
Percebe-se por esta vista que nenhum sinal resta de nenhum dos prédios quase 30 anos depois de sua construção. Foto: bagrinho. |
Atualizado em 23/03/2011.
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Caro leitor, Caso tenhas alguma foto ou história sobre o Forte de Coimbra. Ou então reconheça alguém numa fotografia, por favor, compartilhe conosco! Nos escreva e cite este update para que possamos manter viva a história contemporânea do Forte de Coimbra. Envie para silvaparreira@gmail.com.
Olá, sou 2º Sgt Gibson, estou servindo em Coimbra e gostei muito das fotos do seu arquivo. Estou com a idéia de montar uma esposição de fotos aqui para o próximo ano, gostaria de saber se posso contar com sua colaboração enviando-me algumas fotos antigas com algumas histórias da região, fatos marcantes e tudo mais. Para possível contato email gibson3002@hotmail.com. Grato. Pantanal.
ResponderExcluirE com muita alegria que revivo aqui, um periodo muito feliz de minha infancia. Sou filha do entao major Walkyr Serrano de Andrade e estava em Coimbra por ocasião da primeira enchente. Para uma criança tudo era festa; especialmente o atraso em voltar as aulas devido a impossibilidade de vir pelo rio. Tivemos que esperar um avião Búfalo nos levar para Corumbá e de lá outro voo para o Rio de Janeiro. De qualquer forma e com muito orgulho que digo: meu pai sempre pensou mais na comunidade do que nele mesmo. E suas construções seguramente deixaram saudades. Regina Stella Serrano (rreginass@hotmail.com)
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