NOSSA SENHORA DO CARMO, A RAINHA DA PAZ!


Capitão José Lourenço Parreira, Historiador e Escritor

Por José Lourenço Parreira


Em dezembro de 1864, 3.200 paraguaios chegaram, de surpresa, rio Paraguai acima, para conquistar o Forte de Coimbra cuja guarnição era constituída apenas de 115 artilheiros!

Cada avanço inimigo sobre as muralhas era feito por 700 infantes guaranis. Muralhas defendidas, heroicamente, pelo Tenente de Artilharia João de Oliveira Mello e seus 80 atiradores!

Na tarde do dia 28 de dezembro, estando os defensores do Forte sem água, cansados e com pouca munição para fuzil, eis que mais um avanço paraguaio se anuncia. Desta vez, um Batalhão com 700 homens, que não lutara no dia anterior, e um Companhia que lutara no dia 27 por conhecer o caminho!

Os canhões troam, a fuzilaria se torna infernal, gritos de ambos os lados. O Forte de Coimbra será subjugado e todos os seus defensores serão mortos.

Verdexas, um músico, cumprindo ordem de Dona Ludovina Portocarrero ergue a Imagem de Nossa  Senhora do Carmo sobre a muralha e brada: "Viva Nossa Senhora do Carmo!"


A imagem sendo levantada por sobre as muralhas!

Imediatamente, silenciam-se os canhões, 700 fuzis paraguaios se abatem e todos gritam: "VIVA NUESTRA SEÑORA!".

Brasileiros e paraguaios interrompem o fogo para louvar a Virgem Maria ali representada naquela pequena Imagem que ali está desde 1798, trazida pelo Herói Ricardo Franco d Almeida Serra!

Após essa retumbante intervenção do Alto, os contendores deram mais alguns tiros, mas o ímpeto do inimigo se fora. Cessou o combate daquele dia. 

À noite, por causa da munição de fuzil que se acabara, o TC Portocarrero, maior autoridade, tendo reunido os Oficiais em Conselho, decide pela retirada: foram para Corumbá e, após, para Cuiabá.

Nessa retirada, a primeira pessoa que entrou na Canhoneira Anhambaí foi Carlota, filha de Portocarrero, levando nos braços a Imagem  de Nossa Senhora do Carmo.

A referida Imagem permaneceu longos 10 anos em Cuiabá. Retornou, no dia 2 de agosto, em 1874.

Toda a população e a tropa foram ao porto de Coimbra recebê-LA!

Os canhões saudaram a Imagem com salva de 21 tiros! Começou, assim, a honraria de General que o Exército tributa a essa Preciosa Relíquia!

Há 44 anos, em 1976, lendo esse fato histórico, registrado pela pena do General de Exército Raul Silveira de Mello, José Lourenço Parreira, Sargento, foi inspirado a evocar efeméride tão bela e edificante, rica de civismo, religiosidade e patriotismo. 

General Raul Silveira de Mello, de terno, sendo cumprimentando pelo General Lyra Tavares.
 

Foi assim que  surgiu no Forte de Coimbra a Festa da Rainha da Paz, com total apoio e entusiasmo do Senhor Bispo de Corumbá, Dom Ladislau Paz,  do Comandante do Forte de Coimbra, Major de Artilharia Paulo Cesar Nogueira, Sargento Hiroomi Yano, então   Diretor  da   Escola Ludovina Portocarrero, todos os militares e civis.


1978 - Peregrinação a Corumbá-MS - O andor confeccionado, em 1975, pelo Cabo Euclides Coleta, carpinteiro do Forte, é levado em Procissão pelo Maj Art Paulo Cesar Nogueira, Cmt de Coimbra, e pelo Soldado Advaldo, Legionário de Maria.

A Imagem era levada pelos Legionários de Maria, após o Culto na Capela, a cada casa de Coimbra, à noite.

No dia 1º de agosto, a Imagem visitava o Quartel, quando era recebida com honras de Oficial General.

A imagem de Nossa Senhora do Carmo do Forte de Coimbra sobre as muralhas do Forte de Coimbra: Festa da Rainha da PAZ!


Ao voltar para a Vila, os alunos da Escola Ludovina prestavam-lhe vibrante homenagem.

No dia 2 de agosto, à noite, após o Culto, saía a bela procissão em direção às muralhas do Forte. Revivia-se, então,com emoção, vibração, num espetáculo de som e imagem, o momento em que a Rainha da Paz interrompeu o combate, em 1864!

Essa solenidade que, infelizmente, não mais se realiza no Forte de Coimbra, integrava  as  grandes  realizações dos chamados anos brilhantes da História do Forte de Coimbra. 


General Raul Silveira de Mello

Sobre tais realizações assim se expressou a maior autoridade e  Historiografia Militar no século XX, em Mensagem publicada no Boletim Interno nº 174, de 14 de setembro de 1977:

"Rio, 2 de setembro de  1977 -  À Comunidade Cristã de Coimbra, militares e civis, homens e mulheres. Se eu tivesse de enviar-lhes uma mensagem de congratulações pelo bi-centésimo segundo aniversário da fundação desse memorável Forte - 13 de setembro de 1775 - eu não iria recorrer ao passado histórico desse velho baluarte, já bem conhecido de vocês. Não.  Eu ficaria nos dias presentes, ainda não computados para a História, pois encontro neles assuntos ainda não divulgados e fatos de alta expressão social e espiritual, quais não houve no passado...".

Nessa Mensagem, o insigne General sugeria à Comunidade, militares e civis, a prestarem homenagem a José L. Parreira, pelo que era  realizado por uma plêiade de militares, naquela fronteira.

Para a Festa da Rainha da Paz, compus letra e música de uma Canção: RAINHA DA PAZ.

Diz o Poema:

De longe, distante das montanhas / chegam rumores de guerra / de muita maldade
de muito pecado / esquecimento de Deus!
Rainha da Paz, Rainha da Paz / Livraste-nos da guerra cruel, no passado
Livrai-nos, outra vez, das trevas, do pecado / Sois rainha e nossa mãe!
A Virgem Maria nos fala / não esqueçais Cristo Jesus
A paz que buscais, só Ele vos dará / Orai, orai em cessar! 



A letra dessa Canção tocou o coração da Sra. Albenísia Lopes Olivo, esposa do General Aires Barros Olivo, que, de Brasília ligou ao autor para dizer-lhe que amar o poema.  Hoje, no Céu, dona Albenísia deve cantar o Poema à Nossa Senhora do Carmo e interceder, creio, por nós que aqui estamos, neste vale de lágrimas!

Em 1989, a Imagem de Nossa Senhora do Carmo, por decisão do General de Exército Alcedir Pereira Lopes, visitou Cuiabá. General Alcedir era o Comandante da 13ª Brigada.

Gen Bda Alcedir Pereira Lopes, Cmt 13 Bda Inf Mtz, Cuiabá-MT, colocando o Distintivo de Bolso da 13ª Bda Inf Mtz, no manto da Imagem de Nossa Senhora do Carmo, Rainha da Paz. Depois, coloca suas estrelas de General no manto da imagem, após a Consagração de toda a 13ª Bda, à Rainha da Paz. Ao seu lado, o ST  JLParreira, Cerimoniario.


No Comando da 13ª Brigada de Infantaria Motorizada, houve as honras militares e belíssima Ato de Consagração da Brigada e todas as suas Unidades à Nossa Senhora do Carmo do Forte de Coimbra, a Rainha da Paz!

A Imagem visitou o 44º Batalhão de Infantaria Motorizado, o 9º Batalhão de Engenharia de Construção, todas as Igrejas de Cuiabá, a Santa Casa, a Vila dos Militares e uma Capela no Bairro CPA. Toda noite, no QG, às 21 horas, rezava-se a oração do Terço de Nossa Senhora.

Na Catedral do Senhor Bom Jesus de Cuiabá, domingo, a Santa Missa foi irradiada pela Rádio Bom Jesus. Milhares de ouvintes de Cuiabá e cidades vizinhas  ouviram  a  História da Virgem de Coimbra.

O Mestre de Cerimônia foi o ST Parreira que narrou a História de Nossa Senhora do Carmo e dos seus Heróis. As cerimônias tinham a presença  do pio e sábio Frei Quirino Franz e do Capelão da Brigada Padre Gaspar José Goldschimidt.


Durante a visita de NSCarmo a Cuiabá, houve a Páscoa dos Militares no Ginásio do SESC. Na foto vemos a Imagem Histórica, o franciscano Frei Quirino Franz, com estola vermelha, Padre Gaspar José Goldschmidt, Capelão da Brigada e o Mestre de Cerimônia, ST JLParreira.


O TESTEMUNHO DO HERÓI


General de Divisão João de Oliveira Mello, o Mello Bravo!

João de Oliveira Mello, era Tenente, quando comandou seus 80 atiradores na muralha do Forte de Coimbra, impedindo que os paraguaios transpusessem a muralha. 

Ele viu a Imagem ser exposta sobre a muralha e o cessar fogo, inexplicável, milagroso!

Em agradecimento, Mello Bravo, ao batizar seus filhos deu-lhes a todos o nome de... DO CARMO!

Já General, em Cuiabá, certa  vez  ao  afirmarem que ele fora a alma da resistência do Forte de Coimbra, o bravo General bradou, com voz impetuosa e convicto: "Quem salvou a Guarnição do Forte de Coimbra foi Nossa Senhora do Carmo e fora disso, tudo é conversa fiada!"


Antônio Maria Coleho, João de Oliveira Mello e outros conquistadores de Corumbá.

Essa  efeméride e outras foram citadas  na  I Jornada Cultural no Forte de Coimbra, em 2013, realizada  por determinação do  Comandante Militar do Oeste, General de Exército João Francisco Ferreira.

Caso algum leitor queira aprofundar conhecimentos sobre a bela e épica História do Forte de Coimbra, sugiro a leitura do Blog Laboratório de Estudos de Polemologia Forte de Coimbra do historiador Luiz Eduardo Silva Parreira, a atual Magister Militum - Revista Eletrônica de História Miitar e Polemologia.


Lançamento do Livro Forte de Coimbra, uma fortaleza no Pantanal. Na fotografia: General de Exército Ferreira, Capitão Parreira, Luiz Eduardo Parreira, Eduardo Parreira, Nilze Parreira e Tânia Ferreira.

Sugiro, também, leitura do  belíssimo Livro, fruto da decisão do Gen de Exército João Francisco Ferreira: Forte de Coimbra, Uma Fortaleza no Pantanal. Além da monumental obra História do Forte de Coimbra, quatro volumes, do General Raul Silveira de Mello, reeditada graças à brilhante gestão do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul.



Medalha comemorativa da denominação histórica do Grupo General Mello Bravo.

Em 2019, o glorioso 18º Grupo de Artilharia de Campanha, Rondonópolis-MT, recebeu a Denominação Histórica de "Grupo General Mello Bravo", luminosa e férrea inspiração do seu Comandante Cel Art Genésio Souza Junior, profunda pesquisa do historiador Luiz Eduardo Silva Parreira, tudo sob o sorriso e a bênção da Rainha da Paz!



Cel Art Genésio e Capitão Parreira. 18 GAC, Rondonópolis, MT. 2019



Fachada do 18ª Grupo de Artilharia de Campanha, Rondonópolis, MT.
Grupo General Mello Bravo


VIVA NOSSA SENHORA DO CARMO, A RAINHA DA PAZ!

Observação: as obras completas do General Raul Silveira de Mello podem ser adquiridas por meio do Instituto Histórico de Geográfico do Mato Grosso do Sul.



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