RICARDO FRANCO DE ALMEIDA SERRA
Por José Lourenço Parreira
Os anos 1974 e 1975 foram muito importantes para a comunidade civil e militar residente no Forte de Coimbra. Em 1974, celebrou-se o fim da Guerra do Paraguai que teve o seu início ali, em dezembro de 1864, quando cerca de 3200 combatentes guaranis chegaram para subjugar o Forte, mas Nossa Senhora do Carmo, Protetora de Coimbra, salvou a brava e heroica Guarnição!
Em 1975, 13 de setembro, celebrou-se, com pompa e circunstância, o bicentenário do Forte de Coimbra! Em Coimbra vivia-se admirável atmosfera cívica e era assunto diário entre os militares e os civis. Os jovens e as crianças falavam com entusiasmo sobre o Forte de Coimbra, Nossa Senhora do Carmo e os Heróis de Coimbra!
O nome do General-de-Exército Raul Silveira de Mello, a maior autoridade em historiografia militar, era amado por todos! Sim, o ilustre General de Exército enviara centenas de exemplares do livro "Heroicidade e Fé" para ajudar Coimbra e o Brasil a bem celebrarem as importantes efemérides. (As obras completas de Silveira de Mello podem ser obtidas pelo IHGMS, veja detalhes aqui)
Comandava o Forte, 1ª/6º GACos, o Major de Artilharia Lister Marino Viegas, cuja cultura era louvada em Corumbá. Certo dia, disse-me o grande Comandante: "Homens como Ricardo Franco surgem na história de 100 em 100 anos, ou mais..."
O historiador Gen Silveira de Melo escrevera um livro sobre Ricardo Franco, título "UM HOMEM DO DEVER", no sesquicentenário da morte do herói. O autor dedicara a obra à mocidade e aos homens públicos do Brasil, como incitamento à prática das virtudes cívicas, militares e morais, que tanto dignificaram e engrandeceram este insigne paladino do dever.
Ricardo Franco veio ao mundo no dia de hoje, 3 de agosto, no ano de 1748, em Portugal, na cidade de Lisboa. Nesse mesmo ano, aqui no Brasil, era criada a Capitania de Mato Grosso, na qual Ricardo Franco atuaria e se revelaria como um gigante na nossa História. Tendo desenvolvido seus estudos em Portugal, formou-se em engenharia e infantaria, vindo para o Brasil, em 1780.
Homem de invulgar cultura e profundamente religioso. Católico convicto e devoto de Nossa Senhora do Carmo. Foi no Forte de Coimbra, no atual Mato Grosso do Sul, que Ricardo Franco provou a serenidade e a fortaleza interior que hauria de sua inabalável fé na proteção da Virgem Maria.
Tendo edificado o Forte de Coimbra, com imensos desafios materiais e usando até recursos próprios, resistiu, por nove dias, o ataque de castelhanos, vindos de Assunção, e índios Paiaguás, quase 1.000 combatentes, comandados pelo Governador castelhano Dom Lázaro de Ribera Y Spinoza.
Ricardo Franco teve ao seu lado apenas 49 combatentes leais dos mais de uma centena que ali se encontravam. Os demais se acovardaram e pretendiam a rendição que se realizaria no dia 24, às 23 horas; no entanto, o inimigo desistiu de nos conquistar e retornou a Assunção, às 21 horas!
A Heroica Resistência foi do dia 16 ao dia 24 de setembro de 1801!
Com sua força interior, inabalável fé na proteção de Nossa Senhora do Carmo, Ricardo Franco venceu o inimigo externo e o interno, legando ao Brasil, pelas armas, a posse definitiva das terras a oeste de Tordesilhas.
Ainda hoje, as crianças da Escola Ludovina, em Coimbra, dirigida pelo pedagogo Adriano Ortigoza, cantam essa página de glória inserida no seu Hino, poema de JL Parreira que assim diz: "Nossa Escola, sempre a cultivar o amor pela Pátria e por Deus / o Brasil a Coimbra agradece consolidadas as terras do oeste / Vibrai gerações de Coimbra, História viva, Santuário de Heróis!..."
Luiz Eduardo Silva Parreira, historiador, advogado, membro do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul, no dia 30 de maio de 2011, na sua Oração como concludente que conquistara o primeiro lugar do XXV CEPE/ADESG-MS com Pós-Graduação Latu Sensu em Planejamento Estratégico, pela Universidade Católica Dom Bosco, refere-se, assim, aos nove dias de luta e gloriosa Resistência de Ricardo Franco: "Nove dias de luta e resistência que geraram 210 anos de grandeza territorial para o Brasil!".
Tal verdade, tão bela e luminosa,
emociona a cada um de nós que habitamos este rico centro-oeste!" (Vide
texto na íntegra em "Laboratório de Polemologia Forte de Coimbra-Magister
Militum-Revista de História Militar e Polemologia, de Luiz Eduardo Silva
Parreira).
Ricardo Franco partiu deste mundo, no dia 21 de janeiro de 1809, no interior do Forte de Coimbra que planejou, construiu e defendeu. Foi sepultado na Capela em que se encontrava a Imagem de Nossa Senhora do Carmo que ele levara para o Forte em 1798. Ainda hoje, agosto de 2020, a Imagem de Nossa Senhora do Carmo lá está, em Coimbra, vivificando a história de fé e bravura singulares que iluminam todo o Comando Militar do Oeste, todo o Brasil!
Em 1988, já sendo Ricardo Franco o Patrono dos Engenheiros Militares, redigi singelo poema em seu louvor. Fi-lo para divulgar o nome do grande herói, ainda não suficientemente conhecido.
O referido Poema, um dos vencedores de Concurso, em nível nacional, foi publicado, em 1988, no Livro Cânticos Poéticos, da Biblioteca do Exército. Ei-lo:
RICARDO FRANCO
(Patrono dos Engenheiros Militares)
1º Sgt José Lourenço Parreira
Hoje, como outrora,
o inimigo sonha destruir não só nossa terra
mas, mormente, nossa alma.
Por isso em boa hora foi evocado
Ricardo Franco de Almeida Serra
agora, dos engenheiros militares, patrono!
Todos sabem que o Exército constrói
mas não se esqueçam jamais
protege-nos a Virgem Imaculada Conceição!
Eis o porquê de o Exército ser santuário de heróis
Heróis que bradam: só com Deus se constrói uma nação!
Nossos engenheiros militares
inteligentes, corajosos, farão obras aos milhares
serão como Ricardo Franco de Almeida Serra
construirão na eternidade, a fortaleza d'alma
cujos alicerces, afinal, são edificados
- com coragem, lealdade e bravura - aqui na terra!
À luz do Santo Evangelho, desta data, somos levados a pensar que Ricardo Franco, católico de fé robusta, linda e profunda devoção à Nossa Senhora do Carmo, diante das ondas tenebrosas do ataque dos castelhanos e daqueles intra-muros que tramavam a rendição, ouvia, bendita intuição, a voz de Jesus: "Tende confiança! Não temais!"
Suscite o Senhor Deus, com a
intercessão de Nossa Senhora do Carmo do Forte de Coimbra, mais e mais
brasileiros, militares ou civis, com a fé, heroísmo e o amor à Pátria dos
quais é modelo o Coronel Ricardo Franco de Almeida Serra!
Sursum Corda!
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